quinta-feira, 4 de março de 2010

VOO 1523 "ZÉ ESPECIAL E POETA" Luis de Sousa DANTAS (comissão na B.A.12 de final de 1967 a final de 1969) 3ª parte



Victor Sotero Cavaleiro
Esp.EABT
Damaia

Meu Comandante:

Depois de ter passado um mau bocado com esta trovoada que tive de enfrentar, reparei que fiquei sem comunicações com a torre de control.

Desci para a altitude mais apropriada e passei em frente da torre "abanando" as asas. Voei até à cabeceira da pista mais "calmo" e voltei para de novo passar em frente da torre. "Vi claramente" que o "ZÉ ESPECIAL" se encontrava no varandim apontando a pistola de sinais luminosos para o ar. Nada me impedia de aterrar já que o nosso "ZÉ" tinha disparado o cartucho luminoso branco.

Aterrei sem qualquer problema e agora cumprimento os "ZÉS ESPECIAIS" que voam e pertencem a esta magnifica linha da frente.

Legenda: O Sotero na B.A.2 OTA em 1967
Foto: Sotero Cavaleiro (direitos reservados)
Meu Comandante:
Naquele tempo, já o Dantas tinha um açafate cheio de versos cândidos uns, lúbricos outros... que ele punha no tabuleiro do jogo poético. Podiam muito bem ser verdes folhas de louro que já anunciavam um radioso nascer literário.
Era um regalo vêr o Dantas agarrado a uma folha de papel escravinhando a sua poesia.
De vêz em quando, servia-se de um pequeno livro de significados que lhe cabia no bolso. Nos momentos em que a boleia não aparecia, lá se sentava numa pedra rabiscando o papel. Palavra cortada de um lado aparecia depois noutro.
Era assim que o Dantas compunha a sua poesia.
Já com o final do curso à vista, quando este terminasse, todos sabiamos o que nos esperava. Cada um para seu lado, para o Ultramar.
Havia que aproveitar o tempo o melhor possivel.
Viemos mais um fim de semana para Lisboa.
O Dantas gostava muito de uma rapariga Judia que morava para os lados do Gomes Freire. Tinha tambem alguem de familia que morava por perto e por aqui ficou enquanto eu ia para casa. No domingo à noite, já fardados, lá fomos para a rotunda do relógio.
Pouco tempo lá estivemos. Um "homem" guiando um Peugeot 404 branco, sózinho, deu-nos boleia. O Dantas, como quase sempre, foi para a frente enquanto eu me instalava no banco de trás.
O "homem", passado pouco tempo depois, começa a apalpar as pernas do Dantas e dando a impressão que "palitava" os dentes, suspirava e dava ais a todo o momento. O Dantas encostava-se o mais que podia para a porta, mas a insistência era tanta que eu cá atrás ria-me por todo o lado, não aguentava. A páginas tantas, o "homem" perguntou: A que horas é que têm que estar na base? Meia noite, disse eu. E se não estiverem? Vamos para a prisão.
O "homem" queria levar-nos para uma propriedade próxima do Carregado mas não levou.
Pedimos para sair no Carregado e saimos.
Pouco tempo depois, passou uma camioneta dos Claras que transportava os últimos alunos e lá nos levou até à B.A.2.
Para terminar mais esta "boleia" permita-me meu Comandante que transcreva mais um poema do Dantas. (do seu livro Pedras Verdes) Meu Comandante:
As minhas saudações Aeronáuticas a toda a magnifica linha da frente desta base.
Até breve.
Sotero
Voos de Ligação:
VOO 1519 "ZÉ ESPECIAL E POETA" (comissão na B.A.12 de final de 1967 a final de 1969) 2ª parte