quarta-feira, 5 de maio de 2010

VOO 1684 JOGA-SE À LERPA COM RAPIDEZ E PERFEIÇÃO.






Victor Sotero

Sargº.Mor(Refº.)
Damaia



Meu Comandante:
As minhas saudações aeronáuticas ao comando, à Linha da Frente e a todos os "Zés" que nos visitam.


A camarata 6, era para nós um "brinco" de alojamento. (motivo de orgulho, até).
Os lençóis, uma vez que não havia da parte da Secção de Pessoal nenhum inconveniente em tê-los por lá, cada vez ficavam mais bonitos!Retoque num, retoque noutro, as pinturas ficavam mais atraentes com os motivos africanos.
Junto ao final do mês, quando se recebia o pré, lá se ia para a cidade passear ou davam-se umas "voltas" pela senzala.
Depois, "tesos" mas "ricos", por lá se jantava e mais tarde se regressava à base.
Ou se esperava pelo autocarro da base ou então lá se tinham que percorrer cerca de cinco quilómetros até à porta de armas.
Éram poucos os "ZÉS" que ficavam na base.
Quem ficava, normalmente tinha que fazer.
-Lavava a roupa da semana e passava-a a ferro.
A roupa civil que estava dentro do armário, vinha para o estendal da rua para não apanhar bolor.
Éra também por esta altura do mês que mais se jogava à "lerpa"
A minha camarata era uma espécie de casino, talvez por ser mais "arejada".
Recordo-me que numa sessão de lerpa, estavam cerca de dois mil escudos angolanos na mesa.
Não fui eu que dei cartas! Recebi Ás, Manilha e Rei do naipe de paus. A carta virada para trunfo: Paus
Não me recordo, por mais que tente, quem foi a jogo comigo! Teria sido o "ZÉ" Olvidio, o Janica, o Quintas ou até mesmo o Pinto.
Tinha também três trunfos de dama.Uma a uma, nervoso, fui jogando as cartas perante o olhar curioso de quem não foi a jogo. Tinha-o lerpado, claro! Éra muito dinheiro!...
Não me recordo também, se foi neste dia que o "ZÉ" Olvidio abandonou o jogo e saiu "disparado" porta fora!
Lembro-me, isso sim, que já de noite, o Olvidio aparece "embezanado" com uma grade de cerveja Nocal às costas e todo molhado.Tinha caído dentro de um lago que havia para os lados da Secção de Transportes.
O Olvidio, tinha dado uma volta fora do normal com a grade às costas para chegar até à camarata.
Tinha também o hábito de atirar para dentro do armário, todas as moedas que trouxesse nos bolsos.
-Era para no fim do mês ir jantar à cidade!Por mim, com o dinheiro ganho naquela noite, fui à cidade e comprei um rádio da marca HITACHI que me custou mil e quinhentos escudos.
Para não andar a comprar sempre pilhas, arranjei e liguei em série três pilhas dos telefones de campanha, que me deram até ao final da comissão.
Como recordação, guardo ainda o rádio a funcionar bem como a galena, naquilo que considero ser o meu museu.Ao Comando, à Linha da Frente e a todos os "ZÉS", as minhas mais cordiais saudações aeronáuticas.

Sotero

Nota.:-Agradeço ao Fernando Castelo Branco e ao Arlindo Pereira o terem-me facultado os elementos que me permitem
estar em contacto com o Olvidio, ao fim de quarenta anos.


Legenda- Na foto, de costas, Quintas, à esquerda Sotero, em frente, Janica, à direita, Olvídio.
Foto:Victor Sotero(direitos reservados)

Legenda-O rádio que me custou 1500$00
Foto:Victor Sotero(direitos reservados)

Legenda-A galena que foi substituída pelo rádio.
Foto: Victor Sotero(direitos reservados)

VB:Pois meu amigo Sotero,apenas te faltou falar da volta obrigatória que davas ao "Pilão"?!
É verdade,até ao dia 5 de cada mês era uma festa,"manga de patacão"depois íamos ao hangar dos Fiat's,ao bar do Sargº.,só se pagava ao fim do mês.
Belos tempos!