segunda-feira, 10 de maio de 2010

VOO 1700 COM QUE ENTÃO COBRAS?!...






António Loureiro

Fur.Mil.PA

Figueira da Foz




Dá-me licença senhor Comandante

Ao camarada Sotero

Mais uma vez não me enganei, os cabelos brancos são sinónimo de alguma aprendizagem, por vezes, nos círculos de amigos, normalmente com algumas deficiências "cabeludas", eu tenho por hábito de dizer que tenho falta de cabelo branco e quando admirados, por vezes menos atentos, respondem que o que eu tenho mais é cabelo branco, eu digo-lhes que estaria muito mais bem composto se tivesse mais cabelo, e como toda a gente parece que não quer cabelo branco, eu não me importava nada de ter mais. Acabam por me dar razão.
Pois Grande Sotero, logo após ter lido os teus escritos e ter visto aquelas fotografias dos teus tempos de jovem, vi logo que estava em presença de um Especial mais Especial, espírito aventureiro, irrascível, corajoso, sensível, poético e agora acabei de verificar que também és cerebral.
O facto de caracterizares todos estes maduros com qualquer coisa relacionado com as artes, revela bem que está atento e sobretudo manifestas um sentido crítico, no bom sentido claro, conseguindo ver algum relacionamento com realidades que nem nos passam pela cabeça.
Vou contar duas passagens com cobras, animal que não gosto muito mas respeito.
Certa vez num aquartelamento em Mount Darwin - Zimbabwe, zona fronteiriça com Distrito de Tete, vi um aglomerado de pretos e pensei que alguma coisa tinha corrido mal e que estaria por ali algum ferido, mas nada disso, tratava-se apenas de um pisteiro branco, em tronco nu, com uma cobra nas mãos a mostrar as suas habilidades.
É claro que também eu, acabei por me aproximar movido pela curiosidade, quando de repente, o "artista" vem para o meu lado, os pretos que estavam ao pé de mim fugiram todos e como eu fiquei parado, ele resolveu entregar-me a cobra.
Eu estava a contar com tudo menos com aquilo e fiquei aflito, mas fugir não era a melhor solução porque isso estavam a fazer os pretos e depressa raciocinei, se a cobra não faz mal ao gajo, também não me vai fazer mal a mim.
Recebi a cobra, ela começou a subir pelo braço acima, eu pus logo a outra mão em cima do braço onde estava a cobra e ela passou para o outro braço e fiz aquela operação meia dúzia de vezes para ela não avançar mais do que aquilo, entregando-a outra vez ao pisteiro.
Safei-me daquela e os pretos devem ter chegado à conclusão de que os brancos não tinham medo das cobras, o que é bem mentira.
Já aqui em Portugal, estava à caça numa maracha de arroz à espera das rolas, e como de rolas nem sinais, de repente reparo numa cobra que não tinha mais de 50 cm a vir na minha direcção. Fiquei estático, deixei-a passar, agarrei-a pela ponta do rabo, comecei a andar com ele à roda Virei-me para o meu companheiro de caça que estava a uns 20 metros e comecei a dizer-lhe: eh Maia, agarra que é para ti, não queiram saber, eu não sabia que o homem tinha horror às cobras e, quase em pânico, apontou-me a espingarda e aos berros foi-me dizendo, se me mandas essa m..., mando-te um tiro. Virei-me para o lado, mandei a cobra ao ar, ela caiu no palhiço do arroz e nunca mais a vimos.
Ainda hoje esta passagem é motivo de conversa e ele diz que eu sou doido.
Resta-me agradecer ao Sotero ter vislumbrado alguma relação entre mim e as cobras.
"Cobra" é o apelido do Curado, digníssimo Zé Especial Melec/Av, camarada do nosso comandante Victor Barata nos tempos da BA12, a quem a saúde abandonou e anda num sofrimento constante.
Até à próxima.
Um abração ESPECIAL