terça-feira, 17 de agosto de 2010

Voo 1879 UM "ZÉ"MUITO ESPECIAL.





Victor Sotero
Sargº.Mor EABT
Damaia




Uma saudação ao "Comando" que heróicamente se tem mantido na sua cabine de pilotagem.
Uma saudação também para a "Linha da Frente" que está quase toda de férias.
Uma saudação ainda aos "Zés" que nos visitam mas que por vergonha ou falta de coragem não se apresentam a esta "Unidade".


Meu Comandante.
Hoje, está muito calor.
Talvêz por isso o meu subconsciente me tenha levado para terras por onde antes andei.

"Sorna", diriam alguns!
Mas não, a "missão" é para cumprir.
Num destes dias, sendo "nomeado" para Angola, viajei até Luanda, terra da Cuca e Nocal.
Estava já no Clube de Especialistas esperando pela minha colocação numa das Unidades da Região Aérea.
Sentado junto a uma mesa, tinha já por companhia um prato com lagostas e uma Nocal.
De repente e ainda sem ter dado uma "martelada" no cetácio, acordei.
Éram cerca de 03H10.
A noite estava quente.
Volto-me para um lado, viro-me para o outro. Não conseguia dormir.
Pela minha mente, um livro "imaginário" que comecei a ler, página a página. Desfolhei folhas uma a uma.
De repente, lembro-me de um "ZÉ", o "Beatnic".
Não me lembro do nome, mas fosse qual fosse, foi sempre o "Beatnic" que me ficou na memória.
Era um "Especial" de Comunicações.
A sua farda foi sempre o fato de macaco da farda amarela encimado pelo célebre "bico de pato".
O fato de macaco, não sei se alguma vêz foi lavado.
Para alem de sujo, eram nodoas por todo o tecido.
O "Beatnic" usava ao pescoço vários fios de sola, de corrente e até mesmo de cordão.
Em cada fio, uma pendureza. Corações, em lata, em sola.
Num, tinha escrito: "MAKE LOVE NOT WAR".
Era o tempo de Bob Dilan e das grandes manifestações que se iam fazendo sentir pelo mundo fora.
A sua maneira de andar era muito esquisita, muito desengonçada.
Olhava sempre para o chão abanando muito a cabeça e transpirando uma espécie de sorriso.
Foi de certeza num fim de semana de 1968.
Da minha camarata para um poste de electricidade, quando necessário, esticava-se um arame e lá se pendurava a roupa para secar ou para arejar.
Talvêz do lado do poste eu tivesse prendido o arame baixo de mais.
O "Beatnic" aproximava-se enquanto eu ia lavando a minha roupa.
De repente, um enorme barulho.
Olhando, vejo o "Beatnic" estendido no chão e com as mãos em redor do pescoço.
Tinha sido "apanhado", quase "estrangulado" pelo arame, na zona da garganta.
Estava todo esfolado e escorria algum sangue pelo pescoço.
Agarrei-o e quis levá-lo para a enfermaria, juntamente com o "ZÉ" Janica.
Em vão!
Pouco tempo depois, lá continuava o "Beatnic" com as suas caminhadas na sua ortodoxa maneira de andar.
O "Beatnic", sim, estava "cacimbado".
Nunca mais o vi, mas no meu "imaginário" livro de recordações, ele permanece não merecendo ser esquecido.


Meu Comandante
Do " Comando", da "Linha da Frente" e de todos os "ZÉS", despeço-me com um até breve.

Sotero