Victor Sotero
Sargº.Môr EABT
Lisboa
Os meus pais combinaram com os meus avós uma ida à terra nestas “mini férias” de Carnaval.
Chegamos à aldeia já perto da noite.
O meu avô, sentado à lareira, aquecia-se.
A minha avó, atarefada como sempre, já tinha em cima da mesa três broas ainda quentinhas num tabuleiro de madeira cobertas com um pano branco.
No forno, ainda a assar, dois frangos com batatinhas pequenas.
Beijos, abraços! Tinha já passado um ano sem nos vermos.
-Avô, não quer fazer umas freiras?
Imediatamente o meu avô se levantou do banco e enfiando a mão pela chaminé, retirou uma pequena panela já preparada, que era atravessada por um pau que servia de cabo.
Foi buscar um saco de pano onde guardava algum milho das freiras.
Ao lume, rapidamente o milho começou a “estoirar” e algumas freiras caíram no braseiro enquanto a pequena panela não era tapada.
-Estão prontas, vamos ali para junto do canto da lenha. Aqui não estorvamos ninguém.
-Que boas freiras, avô! A minha mãe às vezes, também as faz no microondas.
Estas, sabem muito melhor.
Avô, lembra-se do ano passado quando íamos para o jardim da Estrela e você levava pão para os passarinhos?
-Sim. Os passarinhos voavam baixo,
num clamor sem fim.
Avô. Havia alguns que quase vinham comer às nossas mãos!
Oh avô! Ainda me lembro do melhor brinquedo que já tive até hoje e que você tinha achado no lixo. Lembra-se?
Era um avião de lata que tinha uma pequenina fechadura na barriga. Se agente abrisse, as asas ficavam separadas.
Faltava uma roda e o avô, com muita paciência fez uma muito bem feitinha, quase igual à outra.
O avô dizia que era um Dakota e que nos verdadeiros tinha “andado” algumas vezes na Guiné.
-Cultiva meu neto a nobre herança
Que por nossos anteriores me foi legada.
É de mim, perante os homens a fiança
Dos teus actos, que ela seja respeitada.
-Que queres dizer, avô?
Eu sei que para O respeitar,
É preciso sonhar, é preciso crer.
Será uma vida melhor?
Prometo apenas aprender.
-Bem, vamos mas é para a mesa. A avó já vai trazer o jantar.
Amanhã, tens que te levantar cedo. Tenho umas voltas para dar e tu vais comigo. Vamos na carroça do cavalo para veres melhor os campos e as amendoeiras que já estão em flor.
-Eu quero ir avô! Vou deitar-me cedo para acordar cedo e se puder, dar-te uma ajuda no que souber fazer.
-Vamos a casa do J. C. Silva entregar um saco de batatas, depois vamos ao J. Teixeira buscar uns produtos químicos que lhe encomendei. Vamos Passar pelo quintal do Jorge Mendes para ver se já conseguiu podar as árvores e arranjar o quintal. Sabes, o Mendes também tem quatro netinhos, mas são mais novos do que tu. Um deles, acho que é o Francisco, até joga à bola. Pode ser que também por lá andem na brincadeira com o avô.
Na vinda para casa ainda temos que passar por casa do Ferreira porque tem por lá uns papéis da Associação para eu assinar.
Temos que estar em casa próximo da uma hora que é quando a avó tem o almoço feito.
-Avô. Posso fazer-te uma pergunta?
-Claro que podes, não sei é se sei responder-te.
-Tenho estado a pensar e verdadeiramente também não sei.
A batata planta-se ou semeia-se?
VB: Muito bonito netinho, o avo gostou muito.
Ó Victor tu és o máximo!