sábado, 12 de março de 2011

Voo 2197 GADAMAEL PORTO (2)




António Dâmaso
SargºMôr Paraqª.
Azeitão



GADAMAEL PORTO (2)

OS DOENTES ERAM OBRIGADOS A SAIR PARA O MATO

Legenda:Vista parcial de Gadamael Porto em primeiro plano Uma Peça/Obus
Foto:António Dâmaso(direitos reservados) (HBCP12)

Depois de municiados foi dada ordem à Companhia de preparar para sair, o meu pelotão estava completo de graduados pelo que eu não fazia falta, sabia que mais um homem ainda que debilitado, poderia ser uma mais-valia, mas tinha consciência que a minha capacidade estava muito diminuída e que em vez de mais-valia podia tornar-me num empecilho, devido ao meu estado de saúde,pedi ao Comandante de pelotão para me dispensar para ir ao médico, este disse que não era com ele que era com o comandante de Companhia, este apontou para o segundo Comandante, este por sua vez mandou-me para o primeiro Comandante, aquilo caiu-me mal, até ali tinha dado tudo o que tinha, passei-me e numa folha de bloco de carta, fiz um requerimento a pedir para ser submetido a uma junta médica, uma vez que me queriam obrigar a ir para o mato sem estar em condições de saúde para o fazer, pois não queria que os homens que sabe Deus como se arrastavam, tivessem de andar comigo às costas, enquanto andava nestas andanças a Companhia saiu sem mim.
Não saí e assumi a responsabilidade, mais tarde fui chamado ao segundo Comandante para me devolver o requerimento que eu tinha entregado a pedir a Junta médica, fiquei à espera e só me deixaram ir ao médico no dia em que a Companhia foi descansar em Cacine, nesta altura já o meu estado de saúde se tinha agravado mais, enquanto estive à espera fui-me aguentando como pude levavam-me comida que já era difícil de tragar para quem tinha saúde e apetite, como não dispunha dos dois fui bebendo umas cervejas bem “quentinhas” duma caixa que tinha comprado quando lá cheguei, cerveja mesmo quente já era um luxo, mas o instinto de sobrevivência lá me ia dando forças para me deslocar para a vala sempre haviam flagelações, neste espaço de tempo que estive sem
assistência, tive conhecimento de dois alferes e de um ou dois furriéis que se negaram a ir para o mato, mas não por motivos de saúde.
Algumas praças de outra Companhia, que por estarem muito debilitadas, ao não acompanharem os seus pelotões na saída para o mato, foram selvaticamente agredidas pelo Comandante de Companhia, que gostava de sovar praças indefesas e “turras” com as mãos atadas atrás das costas.

Legenda:Material capturado pela CCP 121 na acção “Cobra Ondulante” em 23 de Junho de 1973
Foto:António Dâmaso(direitos reservados) (HBCP12)


Legenda:Gadamael Porto no tempo dos Páras, Junho/Julho de 1973,
Foto:António Dâmaso(direitos reservados) (HBCP12)

No Quadro do Batalhão havia um médico, mas este ficou no Posto de Socorros de Bissalanca, havia um médico do Exército em Cacine, um Alferes Miliciano só fui presente ao médico em Cacine no dia 19 de Junho, puseram-me a soro e lá fiquei enquanto o soro corria, estive a ouvir as queixas dos militares da minha Companhia, pareciam tiradas a papel químico: “Cansaço, falta de apetite, insónias, dores de cabeça e os nervos arrasados, etc.” De repente chegou uma catrefada de feridos da CCP122, uns mais outros menos graves, tinham caído numa emboscada, os ferimentos era quase todos por estilhaços de granadas RPG 2 lembro-me que um deles era Sargento e ficou incapacitado, com a chegada dos feridos as consultas foram interrompidas até fazer as evacuações para Bissau e tratar dos mais ligeiros, depois fui medicado e fiquei em convalescença até 27 de Junho de 1973.
Entretanto a Companhia acabou o curto período de descanso e regressou novamente a Gadamael Porto, eu ainda estava de convalescença, mesmo assim gostavam tanto de mim que queriam que fosse com eles, só não fui porque o Comandante da Companhia não me encontrou, mas fui quando esta acabou.

Saudações Aeronáuticas

A. Dâmaso

Voos de Ligação:

2164 - Operação "Dinossauro Preto" (Gadamael Porto 1) - António Dâmaso