terça-feira, 2 de agosto de 2011

Voo 2426 ROMAGEM ÀS ESTRADAS DA OTA.







Victor Sotero
SargºMor EABT
Lisboa


Meu Comandante:

Permita-me esta aterragem para antes de mais cumprimentar o “Comando”, a “Linha da frente” e todos os “Zés” que nos vão “espreitando”.
O voo 2419, “40 anos depois”, do nosso Comandante, trouxe-me à lembrança saudades dos tempos e bem assim como da nossa “escola”, a Base Aérea nº2.

Legenda: A minha foto da recruta


Tinha acordado com a minha mulher, para esta sexta-feira, uma ida ao Carregado para numa grande superfície fazer algumas compras.

Depois de ter lido o artigo em causa, combinei então:
Que a minha mulher faria as compras enquanto eu, por estar perto, daria uma “volta” até à Ota.
Ficou combinado que mais ou menos uma hora seria o suficiente.
Assim fiz.
Atravessei o Carregado e logo a seguir Alenquer com Cheganças à vista.
Um pouco mais à frente, aproximei-me da curva antes da recta da “Base”. Olhei o pinheiro que algumas vidas matou. Lentamente, um pouco à frente, olhei à direita para a recta a perder de vista.
Continuei em frente e pouco depois atravessei a ponte sobre o rio Ota. Já dentro da Ota, junto ao pequeno largo, olhei à esquerda para a que antes era a taberna do “ti Jaquim” onde muitas vêzes parei. Lembrei-me dos “toneis” e do vinho que brotava para o copo quando se abria a torneira de madeira.
Continuei pela estrada que atravessa a Ota e mais à frente voltei para trás.
À entrada da Ota, depois da curva, ainda a casa que tambem vidas ceifou.
Deu-me vontade de parar, mas não. Continuei pela estrada que me levaria de novo ao Carregado, não sem antes conduzir pela recta da “Base”.
Na estrada, que antes tanto de um lado como do outro se enchia nas bermas com “Zés”, “PA´s” e S/G, à boleia, não se via ninguém.
Reparei que agora poucos carros passam na EN-1. A estrada é poeirenta, motivado pelas pedreiras e pelas camionetas que transportam brita.
A auto estrada que no nosso tempo ia só até Vila Franca de Xira, retirou muito transito desta estrada.
Virei à esquerda pela recta da “Base” e lá fui até à porta de armas diferente, mas mais ou menos no mesmo lugar.


Legenda: O T-38 ex-libris da Base Aérea nº 2 na Ota

Olhei então para o T-33 na minha frente. Imaginei que estavam do meu lado esquerdo as camionetas azuis dos Claras, mas não. Pura imaginação!...
Desolado, voltei à estrada que me levou até ao centro de Alenquer e mirei o rio.
Olhei mais ou menos o lugar onde à cerca de 44 anos, nas cheias de 1967, ajudei a retirar um Taunus 12M preto, que era do Capitão TMMEL Fausto Cruz.
Ao lado do rio, a estrada que me levou de novo à EN-1. Pelo caminho, a antiga fábrica de lanifícios.
Regressei ao Carregado. Fui ao encontro da minha mulher. Estava desolado.
Antes, a nossa “Universidade da Vida” movimentava milhares de militares entre recrutas e alunos, contando com os próprios militares efectivos da “Base”.
Pelo caminho, lembrei-me, mas não vi, aquela carrinha azul Renault com a matricula AM-60-24 e do Major Tomás.
Lembrei-me ainda do Tenente Mineiro, sempre de farda amarela e que se “escondia” por detrás do Comando para na primeira oportunidade nos tirar o “algarismo”.

Era o falecido Sargento Bergano que pedia “algarismos” para completar a escala de serviço dos reforços à “Base”.
Parei um instante e pareceu-me ouvir bem do fundo:
“Oh aluno, está calado!...”
“Oh aluno, estou a vêr-te, dá um passo em frente!...”
Será que se fosse hoje este militar teria a mesma força que teve nos anos sessenta, setenta?
Despeço-me do “Comando”, da “Linha da frente” e de todos os “Zés”, como sempre, com um até breve.
Sotero


Voo de Ligação:

Voo 2419 40 anos depois! – Victor Barata