domingo, 16 de outubro de 2011

Voo 2530 VENTURAS E DESVENTURAS DA VIDA MILITAR.




António Dâmaso
Sargº. Mor Paraqª.
Azeitão





DE LANCEIROS 1 ELVAS PARA O RCP EM TANCOS


Corria o mês de Agosto de 1961, já tinha feito 21 anos de idade e tinha atingido a maioridade, como estava a trabalhar em Lisboa recebi uma carta da Terra a dizer que tinha de lá ir levantar umas guias para ir para a Tropa, cumprir o Serviço Militar Obrigatório.

Uma vez chegado à terra, dirige-me ao Regedor que me deu uma guia de marcha e uma requisição de transporte para Elvas, passei a noite de 20 de Julho a andar de camioneta e comboio, tendo chegado à estação de Elvas pela manhã, por sorte havia transporte à espera

Corria o mês de Agosto de 1961, já tinha feito 21 anos de idade e tinha atingido a maioridade, como estava a trabalhar em Lisboa recebi uma carta da Terra a dizer que tinha de lá ir levantar umas guias para ir para a Tropa, cumprir o Serviço Militar Obrigatório.

Legenda:Forte de Santa luzia em Elvas

Foto: António Dâmaso (direitos reservados)




Legenda:A minha fronha à data
Foto: António Dâmaso (direitos reservados)


Assentei praça no Regimento de Lanceiros 1, situado no Forte de Santa luzia em Elvas no dia 21 de Agosto de 1961, fiz exame psicotécnico para condução auto, tendo ficado aprovado, no mesmo dia foi-me perguntado se queria ir para a Polícia Militar, ao que respondi que não por ter presenciado as abordagens que a PM fazia aos magalas em Lisboa.

Depois entrei de Licença Registada até 15 de Outubro, data da incorporação, fui integrado no CICA 3 para frequentar a Instrução de Condutor Auto simultaneamente com a recruta.
Em Elvas existiam duas Unidades, Regimento de Caçadores 8 e Regimento de Lanceiros 1, no Pico de um Cerro havia um Presídio Militar que chamavam o Forte da Graça, o trabalho dos prisioneiros era descerem com barris para carregarem água às costas, alguns diziam que chegavam lá acima despejavam a água para virem buscar mais.
A Instrução estava a decorrer com normalidade até que sofri o primeiro revés na vida militar:
As nossas malas com os pertences civis, foram guardadas numa arrecadação, a minha mala tinha os meus pertences, o meu melhor fato, camisa, camisola, sapatos de biqueira quadrada e o dinheiro que tinha levado.
Como a alimentação além de escassa era de inferior qualidade, (precisava de suplemento alimentar) vi-me na necessidade de ir à mala levantar mais dinheiro para poder ir à cantina aviar-me de sandes para me alimentar, azar dos azares, da mala nem rasto.
Dois ou três dias depois a dita mala apareceu num palheiro que ficava ao lado do Refeitório e em frente à minha Caserna, mas arrombada e sem nada dentro, claro que dali para a frente, até receber algum dinheiro de casa passei fome.


Legenda:Foto da recruta, sou o 2.º da 1.ª fila da Esq. para a dta.
Foto: António Dâmaso (direitos reservados)

Quando fui informado de que os Pára-quedistas pediam voluntários, apesar de na altura dizerem que o pessoal que optava servir nas Tropas Pára-quedistas era todo maluco, não liguei e vi ali uma maneira de me escapar daquele local, ofereci-me imediatamente e comecei a praticar saltos em altura e exercícios com cordas no picadeiro.
Já tinha feito exame de Condução, jurado Bandeira em 8 de Dezembro, feito a Escola de Cabos e passado ao CIACA, (Centro de Instrução de adaptação de Condução Auto) para adaptação a todas as viaturas de rodas existentes no Exército, depois de ter feito nove tiros, estava apto para embarcar para Angola integrando qualquer Companhia ou Batalhão, como aconteceu aos meus camaradas que ficaram em Elvas, até que recebi guia de marcha para embarcar no Comboio das 21,25 no dia 18 de Dezembro para ser submetido a exames médicos e provas psico-físicas, e lá fomos cerca de trinta elementos com destino a Tancos.
Embarcamos numa carruagem de 3.ª Classe, a que nós chamávamos o comboio do Texas porque aquele tipo de carruagens faziam parte dos cenários dos filmes de cowboys por ter portas dos dois lados e ao meio dois bancos corridos de madeira em ripas virados um para o outro não existindo corredor para comunicação, chegamos à Estação de Almourol por volta das duas da manhã, tinham-mos elementos do RCP para nos indicarem o caminho e lá fomos a pé e entramos na porta de Armas do antigo mas ainda recente BCP, já à data RCP.
Levaram-nos para uma companhia de alunos onde nos colocaram no sótão com uns colchões estendidos e duas mantas para passar o resto da noite.
No dia seguinte fomos ao pequeno-almoço e verificamos que estávamos num mundo diferente, dois pães com manteiga e marmelada, café com leite à descrição, com um pequeno-almoço daquela natureza pensámos estar preparados para o que viesse.


Legenda:Prova do salto para a lona, foi importada de Espanha (Na foto um Pára do Curso de Alcantarilha 1955)
Foto: António Dâmaso (direitos reservados)

Lá me fui desenvencilhando das provas físicas, salto do muro, salto em altura, salto para a lona, salto em comprimento, corrida de velocidade, subir uma corda a pulso de 8 metros de altura, exercícios físicos, até que me apareceu a prova de boxe, calçaram-me umas luvas pesadas, que só elas pelo peso cansavam, colocaram-me um adversário na frente, cometemos a estupidez de combinar não bater com muita força, fomos apartados e puseram-nos com outros adversários, aqui ainda existiu a combinação, claro que mais uma vez novo adversário e o aviso de que a prova de boxe era eliminatória, disse para o meu adversário para me desculpar porque dali para a frente era pancadaria a torto e a direito, até nos entusiasmámo-nos e demos e levamos pancadaria até sentir-mos o cansaço do peso das luvas.

Legenda:Subida da corda (Foto 50.º Aniversário das TP)
Foto: António Dâmaso (direitos reservados)



Legenda:Prova de secção de BOX (Foto 50.º aniversário das TP)

Foto: António Dâmaso (direitos reservados)


Com o almoço ainda ficamos mais maravilhados com a qualidade e quantidade, tratava-se nada mais, nada menos, de que uns bons bifes, coisa que não tinham-mos tomado nem o cheiro em Lanceiros 1, já ao jantar embora primoroso, não o pude saborear convenientemente devido ao murro que tinha levado nos queixos que me dificultava a mastigação.
No dia seguinte foi a inspecção médica para os que tinham passado nas provas físicas, fomos metidos numas viaturas Bedford 4X4, com umas rodas enormes e levados para o Posto de Socorros da BA 3 considerados aptos para o Pára-quedismo, cerca de 50%, os que chumbaram voltaram para a Unidade e os aprovados ficámos adidos ao RCP e entrámos de licença registada, isto no dia em que se soube que Portugal disse adeus à Colónia Indiana.
Durante os dois meses que estive em Elvas, depois de ter sido roubado tinha um pó aquele local, já a primeira experiência de vivência em grupo foi positiva, tinha no meu Pelotão uns indivíduos bem apanhados, havia um que sonhava alto, depois de ter feito exame de condução, escreveu uma carta à mãe e à noite a dormir desbobinou o conteúdo da mesma.
-Querida mãe, fiz exame e fiquei bem… …, chega-te para lá Moreira…, passados que são 50 anos ainda me lembro do nome de alguns.

O Regimento de Lanceiros 1 foi extinto a 25 de Abril de 1975.

Saudações Aeronáuticas

A Dâmaso

VB: Olá Dâmaso.
Se a memória é excelente, esta tua entrada nesta grande família não deixa de perpetuar algumas recordações.
A una magoa que podemos ter neste momento, é ver ao fim destes 50 anos o pacifismo das nossas actuais FA face à situação no País. Sabes, agora já está tudo um pouco mais acomodado e como tal …”já não é nada comigo!”