domingo, 19 de abril de 2009

VOO 914 APRESENTAÇÃO DO JOAQUIM MAURÍCIO.


Joaquim Maurício
Esp. Melec. Av./Inst. 3ª/69
Angola 72/74
Vila do Bispo, Algarve


Boa noite,
Amigo Barata. (Barati) (1)
Espero que desta seja de vez.
Possivelmente o comentário sobre o Post 831 do Luís Santos, estará desfasado no tempo, farás como achares melhor.
Continuação de um bom trabalho e PARABÉNS pelo até então desenvolvido.

Apresentação:

Em linguagem militar, tenho andado desenfiado, peço licença para me apresentar:

Joaquim Batista Marreiros Maurício, Esp. Melec. Av./Inst. 3ª 69.









Legenda: Joaquim Maurício, à esquerda em Angola 70/72, à direita na actualidade
Fotos: Joaquim Maurício (direitos reservados)


Legenda: Gráfico distribuição de dias por unidades
Fotos: Joaquim Maurício (direitos reservados )

O conflito nos juntou e o conflito nos separou, muitos de nós a terras de além-mar fomos batalhar.
O sonho era a casa voltar, é nosso dever a memória venerar dos que foram impedidos de o realizar.
Eu em particular em Angola fui aterrar, nos Nord-Atlas trabalhar e voar.
Henrique de Carvalho, Luso, Cazombo, Lumbala, Gago Coutinho, Cangamba, N`Riquinha, Mavinga, Cuito-Cuanavale, Luiana e outras por recordar, haveria de sobrevoar e caminhar, até a terras de S. Tomé fui parar.


Legenda: Cazombo, transporte de tropas 1973
Fotos: Joaquim Maurício (direitos reservados)

Deve esclarecer que não eram viagens de lazer, tratava-se de um exército abastecer.
No Luso era privilégio a Dunama conhecer, voar ao alvorecer e do céu ver o Sol nascer. Em segredo, fiquei a saber, as matas do Leste o MPLA tinha de as percorrer para as suas hostes a Norte fornecer, cinquenta dias e cinquentas noites a temer os avanços dos Flechas que da noite faziam o supremo poder.
Gago Coutinho, meia viagem por percorrer, necessário era os depósitos voltar a encher.
Em Luiana era sempre um prazer, com o pessoal do exército conviver e bifes de javali comer.
Em Lumbala, e Cazombo com o rio Zambeze a correr os mercenários do Katanga iria conhecer, muito deviam saber da vitória do Mobutu do fuzilamento do Lumumba e do desaire do Tschombé, em Angola fiquei a saber que lutavam para se estabelecer.


Legenda: Lumbala, rio Zambeze
Fotos: Joaquim Maurício (direitos reservados)

Cuito-Cuanavale era ver os Sul-Africanos a bordo dos Canberras fotografia aérea fazer. Carne de burro do mato comer para a fome empobrecer.
Por vezes, notícia de entristecer, tempo de reflectir, e tentar perceber, o que por ali andávamos a fazer.
A Luanda sempre vinha ter, praias e locais de lazer percorrer. Os, musseques espaços de menor ter conhecer antes de os ver arder. Com a ordem por estabelecer era ver os brancos residentes em desespero o regresso à Metrópole requerer.


Legenda: Bar Barracuda, Ilha de Luanda
Fotos: Joaquim Maurício (direitos reservados)


Legenda: Arredores de Luanda, pós 25 de Abril 1974
Fotos: Joaquim Maurício (direitos reservados)

S. Tomé terra de encantar, para lá chegar o Oceano era obrigatório sobrevoar. Necessário era saber negociar para algo ganhar.


Legenda: Aproximação à Pista de São Tomé
Fotos: Joaquim Maurício (direitos reservados)




Legenda: Nota da época
Fotos: Joaquim Maurício (direitos reservados)

A terminar tenho a declarar, que são actos e factos por em Angola estar, até o 1ºSargt. Amadeu me tramar e à disponibilidade passar, um ano antes do contrato com a FAP terminar.

Um Curto Comentário


Momento DO-27
Pouco, muito pouco trabalhei nesta aeronave.
Exponho alguns comentários e apontamentos, que ficam sujeitos a correcções, por quem achar por bem, e encontrar neles imprecisões.
Isto vem a propósito do Post 831 do Luís Santos 1º Cabo Enfermeiro
Em determinado ponto da mensagem diz o seguinte:

“Posso até citar um caso, que se passou em TETE, quando a uma determinada altura, num voo, de DO, em que o Mecânico de bordo, de Alcunha o Negro, meu colega, ajudou o piloto, numa situação de emergência, quando o motor, parou subitamente, e a aeronave entrou em perda, ele, muito rapidamente, ligou os magnetos, e de imediato, deu a ignição, e o motor, se pôs em marcha, porque, já estavam muito próximos das copas das árvores.”

Ele muito rapidamente ligou os magnetos, a frase dá a entender que o motor teria parado, porque os magnetos estavam desligados, acontece que com o motor a trabalhar os magnetos estão permanentemente ligados, são comandados manualmente por intermédio da chave de magnetos.
O motor de um avião tem duas velas por cilindro, a vela A é alimentada pelo magneto 1 e a vela B pelo magneto 2, uma forma de optimizar o rendimento do motor e minimizar eventuais perdas de potência, com origem em avarias no circuito de inflamação.
{(1-2)funcionam os dois magnetos, (1 trabalha o magneto Nº1), (2 trabalha o magneto nº2), (M, massa motor, off) } .


Legenda: Chave Magnetos, DO-27
Fotos:
Joaquim Maurício (direitos reservados)

Dados Técnicos


Motor ------------------------------------Lycoming GO-480-B1A6
Potência -------------------------------------------------270 HP
Envergadura ---------------------------------------------12,0m
Comprimento ---------------------------------------------9,60m
Altura ----------------------------------------------------3,45m
Superfície alar -------------------------------------------19,20m2
Velocidade máxima -------------------------------------225Km/h
Velocidade de cruzeiro ----------------------------------208Km/h
Raio de acção -------------------------------------------940Km
Tecto------------------------------------------------- 3.300m
Peso vazio --------------------------------------------1.072Kg
Peso máximo -----------------------------------------1.850Kg
Autonomia ---------------------------------------------940/208=4,5h + -

Legenda: Dados Técnicos, DO-27
Fotos:
Joaquim Maurício (direitos reservados)


Evitando fazer juízos de intenção, dá a impressão que alguém andou a testar o motor do avião em pleno voo.

Voo 911 Vidas Destruídas Vidas Sem Alma.

É interessante e actual, uma lufada de ar fresco que levanta a moral .
Farto das alforrecas* sociais e politicas que por aí abundam, o artigo encoraja-nos a seguir em frente.
No último período da minha comissão em Angola72/74, vivi uma situação parecida.
No, pós 25 de Abril com a guerrilha urbana instalada em Luanda. O pessoal especialista da FAP foi escalado para passar a fazer rondas exteriores à base (Um jipe, condutor, quatro soldados e um sargento, compunha a patrulha). Entregaram-me uma metralhadora ligeira (FBP?) e o comando da patrulha.
Na minha vida de militar durante a recruta e curso, tinha feito meia dúzia de tiros, alguns reforços e “benficadas”, pelas bases que passei o serviço de escala sempre foi o de electricista dia à central eléctrica, até mesmo em Luanda assim tinha acontecido.
Recusei fazer papel de “herói”, acumulando esta, com outras situações de origem oportunista, que se passaram na secção eléctrica, com a minha pessoa, estava na calha para uma porrada.
Desencantado e desiludido, resolvi o problema. Passei à disponibilidade.
Na vida aprendi que o NÂO na maioria das vezes tem muito mais convicção que o SIM.
Não enriqueci, mas sustentei-me, sem ter que vergar a coluna vertebral perante alguns Srs. Vivi livremente e sem entraves e por isso sinto-me grato.

Nota de JM:
* Espécie marítima que anda à tona da água e ao sabor da corrente, de picada irritante quando entra em contacto com a pele.


(1) Código do nome com que nos baptizávamos

JC:
Finalmente conseguimos publicar estes textos do Joaquim Maurício que, embora já tenha participado nesta Tertúlia Linha da Frente, agora se apresenta aos restantes Companheiros, de forma original, a rimar, assim como oportunamente comenta dois Voos anteriores.
Por esta demora pedimos desculpa ao Maurício (Mauri) e que se mantenha connosco e assim vá contribuindo para enriquecer este “nosso” Blog, como Operacional da Linha da Frente que é.
Saudações Especiais,

VOOS Relacionados :
831 SE EU ACREDITO,SOU ENGANADO. – Luís Santos, 1º Cabo Enfermeiro
911 VIDAS DESTRUÍDAS VIDAS SEM ALMA – Lino de Freitas Fraga, Jornalista do Correio dos Açores