Aniceto Carvalho
MMA, 1952
Angola, Moçambique
Montijo
MMA, 1952
Angola, Moçambique
Montijo
Um dia inesquecível
7 de Julho de 1954, um dia como qualquer outro. Tinha as minhas obrigações. Não estava nos meus planos alterar rotina. Deixou de ser. O Laudem Macedo correu ao meu encontro: disse-me que o primeiro-tenente Rodrigues andava à procura de um "gajo" de Aveiro. Eu conhecia o oficial. Calculei para mim: "Sou da região de Coimbra... para o primeiro-tenente Rodrigues, não deve fazer grande diferença", concluí.
Não me enganei. Dei uma palavrinha ao chefe da manutenção, minutos depois estava no ar.
Com 19 anos acabados de fazer, no máximo do sonho de jovem aviador, ir à terra de avião era uma coisa que ultrapassava tudo o que de melhor me podia acontecer. Sabia que o meu avô, o homem que me tinha criado, estava muito doente... mas que a minha irmã fizesse 18 anos nesse dia, nem me passava pela cabeça.
Fixar datas de anos nunca foi o meu forte. Toda a gente que me conhece sabe disso.
A minha irmã tinha acabado de receber duas cartas de parabéns dos nossos dois irmãos mais novos a seguir a nós, do Carlos e do Alcides... estava a reprovar e a lamentar o meu "lendário esquecimento":
- Como sempre, só o Aniceto nunca se lembra dos anos de ninguém.
O meu pai ouviu roncar um motor de avião a ecoar nas encostas.
- Vem aí - disse ele. - Estavas a dizer mal dele, ele aí está.
Era sim senhor. Sem dia nem hora marcada, assim, de surpresa, sem mais nem menos.
E afinal, aquela história da monotonia dos pilotos da antiga Aviação Naval, era conversa fiada:
Não é fácil deixar por aqui escrito o que é a emoção de dizer adeus à família a 500 quilómetros por hora, de dentro de um barril azul escuro fosco com asas, de seis toneladas, a rasar a meia dúzia de metros os telhados das casas. Uma, duas, três, várias vezes... um verdadeiro festival aeronáutico.
Talvez não diga nada a ninguém. Compreende-se. Certas passagens da vida é preciso tê-las vivido.
(Um olhar por cima do ombro. Não foi ontem, no Século XXI. Foi em 1954, numa povoação do concelho de Vila Nova de Poiares, na estrada da Beira, a pouco mais de meia dúzia de quilómetros da Beira Alta).
Aniceto Carvalho
Legenda: Helldiver SB2C-5 em pleno voo
Fotos: Aviação Militar de Aniceto Carvalho (direitos reservados)
JC:
Companheiro Aniceto, pode ter a certeza que esta saída diz muito a muitos de nós (apenas alguns tiveram mais sorte que outros). Qual é o Zé Especial que não entende quando diz “…no máximo do sonho de jovem aviador…” e assim partilhar um pouco da emoção dum “festival aeronáutico” desse calibre.
Bons velhos tempos, em grande.
Saudações Especiais,
VOOS Relacionados :
889 OS NOSSOS PRECURSORES...NA RECÉM CRIADA FAP – João Carlos Silva, MMA 1979
895 UM SERÃO NA PROVÍNCIA – Aniceto Carvalho, MMA 1952
913 UM PRECURSOR...NO CLUBE DOS SARGENTOS DA FAP!-João Carlos Silva,MMA 1979
7 de Julho de 1954, um dia como qualquer outro. Tinha as minhas obrigações. Não estava nos meus planos alterar rotina. Deixou de ser. O Laudem Macedo correu ao meu encontro: disse-me que o primeiro-tenente Rodrigues andava à procura de um "gajo" de Aveiro. Eu conhecia o oficial. Calculei para mim: "Sou da região de Coimbra... para o primeiro-tenente Rodrigues, não deve fazer grande diferença", concluí.
Não me enganei. Dei uma palavrinha ao chefe da manutenção, minutos depois estava no ar.
Com 19 anos acabados de fazer, no máximo do sonho de jovem aviador, ir à terra de avião era uma coisa que ultrapassava tudo o que de melhor me podia acontecer. Sabia que o meu avô, o homem que me tinha criado, estava muito doente... mas que a minha irmã fizesse 18 anos nesse dia, nem me passava pela cabeça.
Fixar datas de anos nunca foi o meu forte. Toda a gente que me conhece sabe disso.
A minha irmã tinha acabado de receber duas cartas de parabéns dos nossos dois irmãos mais novos a seguir a nós, do Carlos e do Alcides... estava a reprovar e a lamentar o meu "lendário esquecimento":
- Como sempre, só o Aniceto nunca se lembra dos anos de ninguém.
O meu pai ouviu roncar um motor de avião a ecoar nas encostas.
- Vem aí - disse ele. - Estavas a dizer mal dele, ele aí está.
Era sim senhor. Sem dia nem hora marcada, assim, de surpresa, sem mais nem menos.
E afinal, aquela história da monotonia dos pilotos da antiga Aviação Naval, era conversa fiada:
Não é fácil deixar por aqui escrito o que é a emoção de dizer adeus à família a 500 quilómetros por hora, de dentro de um barril azul escuro fosco com asas, de seis toneladas, a rasar a meia dúzia de metros os telhados das casas. Uma, duas, três, várias vezes... um verdadeiro festival aeronáutico.
Talvez não diga nada a ninguém. Compreende-se. Certas passagens da vida é preciso tê-las vivido.
(Um olhar por cima do ombro. Não foi ontem, no Século XXI. Foi em 1954, numa povoação do concelho de Vila Nova de Poiares, na estrada da Beira, a pouco mais de meia dúzia de quilómetros da Beira Alta).
Aniceto Carvalho
Legenda: Helldiver SB2C-5 em pleno voo
Fotos: Aviação Militar de Aniceto Carvalho (direitos reservados)
JC:
Companheiro Aniceto, pode ter a certeza que esta saída diz muito a muitos de nós (apenas alguns tiveram mais sorte que outros). Qual é o Zé Especial que não entende quando diz “…no máximo do sonho de jovem aviador…” e assim partilhar um pouco da emoção dum “festival aeronáutico” desse calibre.
Bons velhos tempos, em grande.
Saudações Especiais,
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